Carta de apoio ao médico Jorge Kuhn – por Janet Balaskas

29 de June , 2012

Ao saber dos acontecimentos ocorridos no Brasil após reportagem veiculada em televisão aberta no dia 10 de junho de 2012 sobre o parto domiciliar, Janet Balaskas redigiu uma carta em apoio ao médico ginecologista obstetra, Dr. Jorge Kuhn, demonstrando todo seu apoio aos profissionais e às mulheres do Brasil que são favoráveis à escolha por um parto em casa.

O médico Jorge Kuhn foi alvo de uma tentativa de punição por parte do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro, após ter declarado, na reportagem citada acima, que o domicílio é um local adequado para uma gestante de baixo risco que deseja ter seu filho em casa.

A carta, traduzida por Talia Gevaerd de Souza, demonstra o profundo conhecimento de Janet sobre os anseios femininos, sempre levando em considerações os avanços e pesquisas trazidos pela ciência. Nela encontraremos não apenas o profundo respeito desta mulher pelo profissional Jorge Kuhn, mas também um alerta de que estamos em tempos que solicitam mudanças, especialmente no Brasil. O apoio de Janet Balaskas se somou ao protesto de inúmeras mulheres no Brasil inteiro, que foram às ruas nos dias 16 e 17 de junho de 2012, manifestar seus anseios pela liberdade de escolha quanto ao local do parto, e pelo respeito de todos quanto a estas escolhas.

CARTA:

Gostariade oferecer todo o meu apoio ao médico Jorge Kuhn, a quem tive o prazer de conhecer durante um workshop sobre Parto Ativo que ministrei em São Paulo, em abril de 2011.

Qualquer profissional da área médica que tenha boa formação, entenda a fisiologia do processo de parto em seres humanos, e que tenha estudado as pesquisas científicas neste assunto, saberá que o parto domiciliar pode oferecer o melhor ambiente para que muitas mulheres possam dar à luz de forma bem sucedida.

As mulheres que preferem parir em casa conseguem, com mais facilidade, relaxar, sentirem-se seguras, e ter a privacidade e tranquilidade para se entregarem ao processo de parto sem medo ou inibições. Esta é a receita para um parto mais fácil, mais calmo e confortável, e mais bem sucedido.

A maioria das complicações e dificuldades que ocorrem em partos hospitalares são iatrogênicas – em outras palavras, causadas pela medicalização de um processo que foi feito para ser orgânico e fisiológico.

Dr. Kuhn reconhece e compreende a verdadeira necessidade de um ambiente familiar para a mulher em trabalho de parto, onde ela se sinta tranquila, sem ser observada, e sem que ninguém a atrapalhe. Quando conheci Dr. Khun, percebi que ele é um dos poucos obstetras do mundo que respeitam a mulher, e que acreditam que ela sabe, melhor do que ninguém, como parir o bebê que ela concebeu e carregou em seu corpo por 9 meses.

O papel do médico é, certamente, estar disponível para intervir caso surja uma complicação. Nestas circunstâncias, ficamos muito agradecidas pelo apoio médico. Entretanto, quando a questão é uma gestação saudável e um parto normal sem complicações, não há razões que justifiquem o fato de que uma mulher que deseje um parto domiciliar não possa exercer este direito, assistida por parteira/obstetriz/enfermeira obstetra/médico que confie em sua habilidade de parir. As análises estatísticas apóiam a visão de que não há evidências baseadas em riscos que provem que o parto hospitalar é mais seguro que o parto domiciliar. (Livro: Safer Childbirth? A Critical History of Maternity Care. Autora: Marjorie Tew)

Dr. Kuhn deve ser parabenizado por falar abertamente sobre o que sabe, e o que acredita profundamente ser verdadeiro. Em todo o mundo, há milhares de profissionais competentes que concordam com sua visão, e mulheres que escolheram este caminho, e que tiveram experiências de parto domiciliar maravilhosas e felizes.

O famoso Dr. G. Kloosterman, Professor de Obstetrícia holandês, escreveu as seguintes palavras:
“O trabalho de parto espontâneo, em uma mulher normal, é um evento marcado por uma série de processos tão complicados e tão conectados uns com os outros, que qualquer interferência apenas afastará a ótima condição para o processo acontecer. A única coisa que se espera das pessoas presentes é que demonstrem respeito por este processo maravilhoso e arrebatador, ao seguirem a primeira regra da medicina – ‘nil nocere’ – não prejudicar.”

Na Holanda, é alta a porcentagem de mulheres que tem partos domiciliares, e esta tem sido uma prática tradicional durante centenas de anos. As estatísticas daquele país, para partos normais seguros e bem sucedidos, são as melhores do mundo.

Dr. Kuhn sabe como apoiar as mulheres sem interferir, sem atrapalhar os delicados processos hormonais do parto. Disso tenho certeza, conforme sua declaração de que concorda com o parto domiciliar.

Não vamos nos esquecer que a abordagem alternativa, onde todas as mulheres dão à luz em situação hospitalar, com seus trabalhos de parto conduzidos e manipulados por médicos, tem como resultado uma altíssima taxa de nascimentos cirúrgicos e medicalizados. Observamos esta tendência no mundo todo, onde as mulheres normalmente tem seus filhos em hospitais. A taxa de cesariana no Brasil é a mais alta do mundo. 50% de todos os brasileiros nascem na faca, e algumas localidades têm taxas entre 80%-90%. Quando estive no Brasil este ano, fiquei chocada ao saber que alguns obstetras fazem até 16 cesarianas por dia.

O Brasil está numa crise. Eu parabenizo Dr. Kuhn pela sua coragem em falar publicamente sobre este assunto.

Chegou a hora de fazer uma revolução – novos ares de mudança estão soprando no Brasil. Esta é uma revolução global; o poder do parto retornando para as mulheres. É nosso direito. Nossos corpos sabem como parir, nossos bebês sabem como nascer. O parto é um milagre da natureza, um plano original para sobrevivência e sucesso, uma parte de nossa sexualidade, e, na grande maioria das vezes, não requer assistência de nenhum tipo.

Aqueles que criticam Dr. Kuhn poderiam se beneficiar mais em ouvir o que ele tem a dizer, entender suas razões e seu ponto de vista, aprender mais sobre a fisiologia do parto, e apoiar sua visão da questão. É de médicos como ele que as mulheres precisam.

As mulheres têm o direito de parir em casa. Abaixo seguem algumas das razões pelas quais as mulheres escolhem o parto domiciliar:
•Ter um ambiente relaxante e tranqüilo para o trabalho de parto e o parto.
•Sentir segurança e confortável em um ambiente familiar.
•Saber que é livre para ser ela mesma durante todo o processo do parto, fazer o que sentir vontade de fazer, se movimentar como quiser, dar à luz em qualquer posição que ela escolher, e fazer quaisquer sons que surgirem espontaneamente.
•Não passar por rotinas ou intervenções desnecessárias.
•Passar pelo trabalho de parto sem drogas, e utilizar formas naturais de lidar com a intensidade e a dor.
•Saber que aqueles que cuidam dela são convidados em sua casa, e irão apoiá-la, e não ‘conduzi-la’.
•Estar em um ambiente de intimidade e amor.
•Estar com sua família, com seus outros filhos presentes, ou por perto.
•Não ser separada de seu bebê após o parto.
•Não haver pressa para clampear e cortar o cordão umbilical antes que o bebê receba toda a transfusão placentária.
•Ser cuidada após o parto de uma forma personalizada e íntima, ao invés de estar em uma instituição.
•Celebrar, e aproveitar, uma das melhores experiências de sua vida, com aqueles que ela ama.
•Oferecer ao bebê todas as vantagens da saúde física e emocional, que acompanham um parto natural, sem interferências.

Concebemos nossos filhos em casa, fazemos amor em casa. Queremos que nossos bebês nasçam na paixão e no amor, e não de forma fria e sem emoção de um ambiente clínico hospitalar.
O parto domiciliar oferece às mulheres controle e liberdade para serem responsáveis, e estarem no comando de seus corpos, e de seus processos de parto.
O parto domiciliar é empoderador para as mulheres e, mais importante ainda, dá aos bebês a melhor condição possível para o início da vida.

Janet Balaskas – Fundadora do Movimento pelo Parto Ativo, autora do livro ‘Parto Ativo’, e mãe de 4 filhos, avó de 5 netos, todos nascidos em casa.
www.activebirthcentre.com
jb@activebirthcentre.com

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