A Visão de Janet Balaskas sobre o caso de Torres-RS

08 de April , 2014

Janet Balaskas, criadora do movimento pelo PARTO ATIVO, que revolucionou a forma de se parir na Inglaterra e Europa há mais de trinta anos, fala sobre o caso ocorrido na semana passada em Torres/RS, onde uma grávida foi encaminhada contra sua vontade, através de uma ordem judicial, ao hospital para ser submetida a uma cesárea.

 

Por Janet Balaskas, tradução de Talia Gevaerd de Souza:

Não conhecemos os fatos

Alguns pontos nesta história são surpreendentes e difíceis de entender

 Parece que este trabalho de parto estava muito eficiente – já que a mãe já estava com 9 cm de dilatação do colo uterino e quase pronta para parir.

Esta seria uma indicação de que um parto normal vaginal era uma possibilidade (esteja o bebê de cabeça para baixo ou pélvico).

Parece que o bebê não estava com nenhum desconforto, então não era uma emergência.

Portanto, acho difícil de entender porque uma cirurgia cesariana seria justificada.

 

Vamos pensar em como este parto poderia ter acontecido

Como a mãe já tinha duas cesarianas anteriores, faz sentido ela parir em um hospital com suporte médico disponível.

Esta situação poderia ter sido conduzida de modo a manter o ambiente bem relaxante e tranquilo – mesmo num hospital – sem atrapalhar ou assustar a mulher. Deixá-la livre para se movimentar, adotar posições verticais, ficar em pé ou ajoelhada e fazer o que seu corpo pedisse.

Dar a ela a oportunidade de parir seu bebê naturalmente, mas estando de prontidão para intervir a qualquer momento, caso necessário.

Nestas condições, o bebê poderia ter nascido rapidamente por via vaginal, já que tudo estava progredindo tão bem.

Para que isto acontecesse, a equipe que estivesse com ela precisaria entender a fisiologia do parto, e as necessidades de uma mulher em trabalho de parto.

 

O modo com que tudo aconteceu foi um absurdo.

O nascimento foi um ato de violência. Sem uma indicação clara ou consentimento por parte da mãe, um nascimento cirúrgico foi feito. Nenhuma mulher teria a intenção de machucar seu bebê ou de deixá-lo morrer. Quando um bebê realmente necessita de ajuda, normalmente a mãe é a primeira a saber disso, e aceita a ajuda de um médico com alegria.

Mas, neste caso, a mãe estava confiante de que poderia dar à luz ao seu bebê, e eu acredito que ela estava certa. Não havia boas razões para que ela não tentasse, já que estava num hospital e sendo atendida por médico obstetra.

Fazer uma cirurgia cesariana sem seu consentimento, entretanto, e com uma ordem judicial, numa mulher saudável e em seu juízo perfeito, infringe o direito da mulher de parir seu bebê.

Um tribunal não é o local onde tal decisão deve ser tomada. Esta decisão deveria surgir a partir de boa comunicação entre a mãe, sua obstetriz ou médico. Deveria ser baseada num entendimento da fisiologia do parto e de evidências de que há uma circunstância especial ou complicação que pede intervenção.

Pelo que eu soube – tal complicação não existia, e a escolha da mulher e seu instinto foram completamente desconsiderados. Não ficaria surpresa se a mulher se sentisse violada e ROUBADA de seu direito de dar à luz ao seu bebê.

Toda esta situação demonstra a guerra que está acontecendo entre médicos e mulheres no Brasil – sobre quem tem o controle do parto. Vocês tem a maior taxa de cesarianas do mundo. Em torno de 52% de todos os nascimentos no Brasil acontecem por cirurgia cesariana, e, em alguns hospitais particulares, a taxa pode chegar a 90%. Todas estas cesarianas não são necessárias. Há outros fatores a considerar aqui – como medo do parto, medo de ser processado, lucros e poder.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que a taxa de cesariana deve ficar entre 10-11%.

O aspecto positivo a ser considerado deste nascimento é que ele aponta para a necessidade de mais entendimento sobre o processo fisiológico do nascimento como parte da educação de mães e pais, obstetrizes, enfermeiras obstetras e médicos, para que o Brasil possa mudar.

Estou visitando o Brasil pela terceira vez para ensinar sobre Parto Ativo, e ministrarei um curso de imersão de 5 dias em São Paulo, entre os dias 18 e 22 de abril.

Estou aqui para que minha voz e conhecimento possa somar à causa das mulheres que estão se posicionando pelo seu direito de parir.

Parto Ativo significa empoderamento e liberdade das mulheres. São elas que dão à luz.

Parto Ativo também significa educação dos profissionais que as atendem, para que estejam aptos a trabalhar juntos e fazer a mudança que é extremamente necessária na cultura do nascimento do Brasil.

 

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